A velocidade do tempo

Texto restaurado e reeditado

Não sei se o tempo é a maior angústia do ser humano, ou está entre as principais, mas fato é que, ultimamente, muita gente tem falado da velocidade dos calendários e relógios, o que me faz lembrar de uma frase do amigo Alvaro Acioli: “agora, enquanto ainda”. Ou seja, faça enquanto há tempo.

Lógico que o tempo também me angustia. Ontem, por exemplo, tive um dia duro de trabalho. Muito duro. Percebi que o tempo voou muito mais rápido do que anteontem, quando o trabalho foi mais light. Será que a distração proporcionada pelo trabalho aumenta a nossa percepção de velocidade do tempo? Sei lá. Um alto executivo de uma montadora de automóveis nos Estados Unidos, em sua autobiografia, escreveu que “agora, aposentado, sinto vontade de atirar o relógio pela janela na ilusão de que fazendo isso estarei parando o tempo”.

Nós aceleramos a percepção de velocidade do tempo? Nós temos esse poder? Quando um supermercado coloca ovos de Páscoa (que é em abril) na vitrine, praticamente na primeira semana de janeiro, está acelerando a percepção de velocidade do tempo de muita gente? Não sei. Na verdade, muita gente passou pela vida pensando nisso e, no final da história, a vida acabou passando por cima de todo mundo que caiu nesta cilada de transformar o tempo em passatempo.

Para mim, Caetano Veloso é o maior poeta brasileiro. Lendo sua coluna aos domingos, percebo que ele anda super angustiado com o tempo. Volta e meia diz coisas do tipo “antes de ficar velho, eu ia mais a Bahia”. Caetano fez e faz muita gente pensar com a letra da canção “Oração ao Tempo”, de 1979:

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo Tempo Tempo Tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo Tempo Tempo Tempo

Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo Tempo Tempo Tempo
Entro num acordo contigo
Tempo Tempo Tempo Tempo

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo Tempo Tempo Tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo Tempo Tempo Tempo

Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo Tempo Tempo Tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo Tempo Tempo Tempo

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo Tempo Tempo Tempo
Quando o tempo for propício
Tempo Tempo Tempo Tempo

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo Tempo Tempo Tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo Tempo Tempo Tempo

O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Apenas contigo e migo
Tempo Tempo Tempo Tempo

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Não serei nem terás sido
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo Tempo Tempo Tempo
Nas rimas do meu estilo

Tempo Tempo Tempo Tempo


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