Bicicleta, pura utopia de primeiro mundo
Texto
reeditado
Estava a caminho do trabalho quando uma pesquisadora
chegou junto a janela de meu carro num sinal de trânsito. Com um computador
minúsculo na mão, perguntou se eu estava usando o carro para o trabalho ou
lazer, se eu iria percorrer uma distância superior a 20 quilômetros e,
finalmente, o que achava da ideia de usar bicicleta no lugar de carro.
Expliquei que estava indo para o trabalho, menos
distante do que os 20 quilômetros sugeridos. Respondi que quanto a não
substituição do carro por bicicleta disse que eram tantos motivos que não iria
dar tempo. Por isso, respondo aqui.
Bicicleta em cidades médias e grandes no Brasil ainda é
suicídio. Por que? Ora, sejamos sensatos. Ninguém respeita. Carros, ônibus,
caminhões e motos passam por cima de dúzias por mês porque, como não tem motor,
a bicicleta é uma presa fácil que só acelera o que conseguimos pedalar. Com
motor, a motocicleta se safa mais rápido, mas ainda assim as motos vivem
enchendo as emergências de todas as cidades.
Se existissem ciclovias (mesmo assim sem pedestres), eu
até pensaria na hipótese, mas aí esbarraria em outro fator: o suor. Quem anda
de bicicleta debaixo dessa lua tropical (em qualquer estação do ano) chega ao
destino lavado de suor, em geral mal humorado, distribuindo desculpas, enfim, é
horrível. Já passei por essa situação uma vez. Fui de bicicleta a um brunch em
casa de amigos e quando cheguei parecia aquela garoupa suada que Erasmo Carlos
cita em uma de suas canções. Na boa, senti o nojo, o ar de “chega pra lá,
molambo” nos olhos dos outros convivas. E, para piorar, roubaram minha
bicicleta apesar do cadeado e da corrente. Voltei para casa de táxi.
Bicicleta é muito bonitinha na Europa ou em algumas
cidades da América do Norte, mas no Brasil, calor crônico, bofetada pra todo o
lado, ônibus, taxis, carros, motos, todo mundo cercando a “magrinha” é mera
utopia. Utopia de inverno porque, como já disse ali em cima, mesmo que
tivéssemos ciclovias eficientes o suor seria o grande predador dos ciclistas.
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