“Responder a e-mails é uma obrigação. Quem discorda deve deixar a internet”
O título está entre aspas porque quem disparou a frase
foi um colega meu num bar do Largo do Machado (Rio) semanas atrás. O assunto na
roda (uns 20 caras) era e-mail. Todo mundo indignado com o fato de mandarem
e-mails que não são respondidos.
Eu estava na boa, me divertindo com o assunto, mas lá
pelas tantas opinei: “não responder a e-mails é a maior escrotália. Pior do que
bater com o telefone na cara”. E voltei a me atracar com o filé à Oswaldo
Aranha que, aliás, estava sublime.
Um outro colega contou que seu vizinho, mais mulher e
três filhos, haviam viajado para Minas Gerais. Feriado prolongado. Uma equipe
da companhia de energia elétrica chegou para fazer o corte por falta de
pagamento. Meu colega se meteu no assunto, pediu que dessem uma chance e os
caras concordaram “desde que ele mostrasse um comprovante de residência em nome
do vizinho”. Significava ter que entrar na casa fazia (fácil, ele sabia, pela
janela, já tinha pensado) e por isso ele mandou um e-mail pedindo autorização
para “invadir” já que não tinha o número do celular. A equipe voltaria no dia seguinte. O vizinho não respondeu ao
e-mail e quando chegou, dias depois, a casa estava sem luz, comida estragada e
tudo mais. Pior: ele disse que tinha lido o e-mail mas que estava descansando...Sífu.
Saí do bar e a caminho de casa, madrugada com brisa e
lua, pensando no assunto. Ano passado mandei um e-mail para um suposto grande
amigo, de anos, que não via há tempos. Me passaram o endereço eletrônico dele e
escrevi uma mensagem calorosa, falando da amizade, da saudade e tudo mais. Até
hoje ele não respondeu.
A princípio fiquei indignado, semanas depois enfurecido
e hoje apenas magoado, certo de que o sujeito desceu da condição de amigo para
a de desafeto. Aí você pergunta “por causa de um e-mail?”. Sim, por causa de um
e-mail que foi a única maneira que encontrei de restabelecer contato com um sujeito
que, me disseram depois, está se achando o cara depois que começou a nadar em
verbas públicas. Pensando bem, foi até bom ele não ter respondido porque de uma
coisa estou certo nesta vida: não tenho amigos corruptos.
O telefone celular é extremamente invasivo. Um dos
colegas da mesa do bar, as gargalhadas, contou que o dele tocou durante um
tenso exame de próstata, quando o médico só mantinha nove dedos das mãos do
lado de fora. Não gosto de usar celular e acho o e-mail a menos invasiva forma
de comunicação porque quem recebe teve que entrar na internet, acessar o programa
de mensagens, enfim, se preparou para isso.
Já há algum tempos venho radicalizando. Pessoas de meu
convívio que não respondem a meus e-mails são sumaria e automaticamente limadas
de minha lista de endereços. Ainda bem que são poucas, pouquíssimas. Todos nós
temos defeitos, vários. Entre os meus está essa intolerância (quase mágoa) com
a falta de consideração, em geral praticada por pessoas que nos acham babacas,
quando na verdade babacas são elas.
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