A matilha do Sarney
A coisa já começou aparentemente ilícita. Ele nasceu em 1930 como José
Ribamar Ferreira de Araújo Costa, mas enfiou um Sarney em suposta
homenagem ao pai. Ainda criança mudou-se para mais de dez municípios
maranhenses o que, segundo sua biografia oficial, causou prejuízos nos estudos.
Mas a biografia real mostra que, desde criança, Sarney passou a cultuar os
currais eleitorais.
Em 1965, virou governador do Maranhão. De lá para cá
ele procriou muito e construiu uma sólida matilha de filhos, netos, sobrinhos,
todos ligados, direta ou indiretamente, a politicagem nacional. Até os genros.
Amigo íntimo de Tancredo Neves (este, por sua vez,
fingia conhecê-lo pouco), José Ribamar, o Sarney, costurou como uma rendeira
durante a abertura política. Seu sonho era suceder Tancredo, mas, sortudo,
acordou presidente da república no dia 21 de abril de 1985, quando o sinuoso,
cínico e quase mau caráter Tancredo de Almeida Neves, avô do maurição Aécio,
morreu.
Foi muito difícil para Ribamar, o Sarney, esconder a
euforia no dia em que Tancredo partiu, mas, renomado ator da pornochanchada
política nacional, segurou os risos e deve ter comprados litros de cristal
japonês para aparecer chorando em circunstâncias que exigiam uma tristeza
redobrada. A viúva dona Risoleta não ia com a cara de Ferreira, o Sarney,
porque não gostava dos amigos de ocasião do marido Tancredo, esse servil,
oportunista, arrivista clássico das elites politiqueiras nacionais.
Como armador, jogador compulsivo, Araújo, o Sarney,
mostrou todo o seu talento quando sentou no trono do Planalto. Por isso, foi
fácil voltar a jogatina e, pasmem, se tornar imortal da Academia Brasileira de
Letras. Um fato que queimou o filme de grandes escritores que não gritaram
diante de tamanho descalabro.
Sua filha Roseana é a mais arrivista dos filhos de
Sarney. A fome de poder dessa senhora é de causar inveja ao também faminto
Lindberg Farias, o monstro da Paraíba que quer colocar o Estado do Rio no
bolso.
No auge da matança na penitenciária de Pedrinhas no
Maranhão, Roseana publicou no Diário Oficial a gastança de mais de um milhão de
reais com a compra de lagostas, salmões e outros ingredientes que frequentam a
revista Caras para suas recepções no Palácio do Governo. Esta semana, ela
suspendeu (mas não cancelou) a compra porque pegou mal. Hoje disse nos jornais
que o caos em seu estado aconteceu (e acontece) porque o Maranhão ficou mais
rico. Será que foi mesmo o Maranhão que enriqueceu?
Fato é que, há 50 anos, Sarney manda, desmanda, solta,
prende, compra e vende na sua terra. E também no Amapá que o elegeu Senador. Os
mais otimistas acham que o poder dos Sarney, passando, como passa, de pai para
filho será eterno. Já os pessimistas acreditam que, com o fim do mundo, existe
a remota possibilidade deste ciclo ser interrompido.
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