Meu guru Marcos Kilzer
Graças a tecnologia da internet estou tendo o
privilégio de manter um contato quase diário com meu guru Marcos Kilzer, um dos
caras que mais conhecem música, rádio e mercado de discos no Brasil.
Conheci o Marcos em 1973. Ele e Jorge Davidson eram
produtores de uma rádio de rock fantástica chamada Federal AM, que apesar de seus
parcos 250 watts de potência (representam ¼ de kilowatt de potência) atingiu o
quinto lugar no Ibope da Zona Sul do Rio. Para terem uma ideia, hoje a Globo AM
tem 200 kilowatts.
Como a Fluminense FM e o embrião da Cidade FM, a
Federal também funcionava em Niterói, na rua da Conceição 99, 10º. andar,
edifício Brasília, no Centro. Em 1973 eu era ouvinte assíduo da rádio e cheguei
a instalar uma antena do tipo “Maria Mole” com mais de dois metros de altura no
carro de meu pai para conseguir ouvir a rádio.
Numa noite, namorando na Boa Viagem onde hoje está o
Museu de Arte Contemporânea (dentro do carro), quando ainda podíamos copular
livremente sem temer assaltos, sequestros e assassinatos, ouvi uma chama na
rádio. Chamada para os ouvintes. A Federal estava lançando o programa Verão 73
e os ouvintes que mandassem para lá os melhores programas poderiam ganhar um
pequeno cachê.
Fiz um sobre The Who e tirei primeiro lugar. Fui lá
falar com o Marcos e negociei: em vez de cachê eu pedi um estágio. Ele
concordou e no dia seguinte me apresentei para trabalhar, com os cabelos enrolados
na altura dos ombros, magro pra cacete e, lógico, feliz da vida.
Marcos me levou ao estúdio de gravação e me “internou”
lá. Ele disse “meu chapa, para entender a rádio que você trabalha vai ter que
conhecer o que ela toca”. Chegou para o saudoso discotecário Manoelino Barbosa
e pediu uma pilha com uns 300 LPs. Neu, Can, Amon Duul, Faust, Van Der Graff Generation, Strawbs, Mott The
Hoople, Humble Pie, Genesis, etc, etc ,etc. Jorge Davidson chegou
junto com o Manoelino e disparou “radio não é toca-discos, rapaz. Faça
programação para o público e não para você mesmo”. Essa frase nunca mais saiu
da minha cabeça.
Fiquei mais de 15 dias internado naquele estúdio
ouvindo tudo. Gostei tanto que nos fins de semana subia na rádio para passar
aqueles discaços que ninguém conhecia (muitos alemães, italianos e ingleses que
a rádio importava) para fitas K-7. Na sequência comecei a fazer programa e, aí
sim, programação. Orientado pelo Marcos e Davidson, acabei promovido e
contratado como Programador Musical. Está lá na minha primeira carteira de
trabalho.
Ia tudo muito bem até acontecerem duas tragédias. A Rádio
pertencia ao grupo Bloch, da Manchete, cuja notória incompetência já era
conhecida. Baseados na imbecilidade os caras da Bloch decidiram acabar com o
formato rock da rádio e partir para o populacho. Lembro de Paulo Bob entrando
para fazer o seu programa e de uma bicha engraçadíssima chamada J. Lourenço que
distribuía um troféu para “celebridades”. Todo mundo sabia que ele passava a
maioria na cara.
A segunda tragédia foi a minha convocação para o Exército.
Afinal, tinha 18 anos. Me apresentei no quartel, me demiti da rádio e na
sequencia rasparam a minha cabeça, mostraram minha farda e me informaram que eu
seria soldado raso. Um milagre chamado excesso de contingente me livrou da
tropa. O rádio, que Marcos Kilzer e Jorge Davidson me ensinaram a amar, já
estava no meu sangue e nunca mais o larguei. Até hoje.
É isso aí, Marcos. Você fez, faz e fará história porque
gosta, conhece e respeita música e rádio. Necessariamente nessa ordem
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