O encontro de Arthur Maia com Jaco Pastorius em Nova Iorque
Jaco.
Arthur
Texto
restaurado e remixado
É muito bom ser fã de amigos. Um deles é Arthur Maia,
um dos melhores baixistas do mundo, que encontrei há tempos no Teatro Municipal
de Niterói durante o surpreendente (para mim) show de Mart'nália. O show,
chamado “Em África”, que com certeza, Paul Simon adoraria assistir ao
espetáculo do pulso, da percussão, da comoção, de tudo o que a África
representa para a Música.
Uma vez, escrevi no Estadão que se não fosse a África a
música popular não existiria. Lá nasceu o ritmo, a batida, a alma. Alguns
leitores reagiram, disseram que não e eu sugeri que assistissem ao documentário
“The Rhythmatist” (1985), de J.P. Dutilleux e Jean-Pierre Dutilleux, estrelado
pelo
ex-baterista do Police Stewart Copeland.
Ele viaja pela África em busca da origem do ritmo.
Participa de cerimônias em tribos isoladas sempre sob o manto da percussão e
fez uma experiência fantástica. Montou uma bateria Tama completa dentro de uma
jaula. Copeland entrou e essa jaula foi colocada numa savana infestada de
leões, que tentavam devorá-lo enquanto ele tocava. Queria passar (e passou)
para a bateria todo aquele sentimento de primitivo terror.
Bom, esse é o poder da percussão. Arthur Maia subiu no
palco deu uma canja no final do show de Mart'nália, para um Teatro Municipal de
Niterói super-lotado, de pé, em histeria total. Antes, eu disse “Arthur, vou
contar em meu blog aquela sua experiência com Jaco Pastorius”. Ele disse que
tudo bem, e, por isso, aqui vai.
Jaco foi um dos mais importantes baixistas da chamada
música fusion, também conhecida como jazz-rock. Foi do Weather Report, grupo
que reluz em minha estante de discos, mas tinha problemas sérios com álcool e
drogas. Batizado de John Francis Anthony Pastorius III, nasceu nos Estados
Unidos e sua morte é até hoje um lamento, como narra o portal Wikipédia:
“O trágico fim de John Francis Anthony Pastorius III
inicia-se em 11 de Setembro de 1987. Após um show de Carlos Santana, se dirige
ao Midnight Bottle Club, em Wilton Manors, Florida. Provocou e acabaou brigando
com o gerente do clube, chamado Luc Havan. Como resultado da briga, sofre
traumatismo craniano e entra em coma por dez dias. Depois que os aparelhos
foram retirados, seu coração ainda bateu por três horas. A morte do mais
ilustre contrabaixista de todos os tempos data de 21 de setembro de 1987, aos
36 anos e dez semanas. Foi enterrado no cemitério Queen of Heaven, em North
Lauderdale.
“Uma das maiores homenagens prestadas a ele, foi
registrada pelo lendário trompetista Miles Davis, que gravou a música Mr.
Pastorius, composição do baixista Marcus Miller, lançada no álbum Amandla.”
Jaco era o herói de Arthur Maia, que no começo deste
mesmo 1987 foi a Nova Iorque a trabalho. Através de um percussionista amigo,
soube que Pastorius costumava jogar basquete numa quadra pública no Bronx.
Arthur foi lá.
Um, dois, seis dias, nada de Jaco. Até que, quase
desistindo, num fim de tarde viu um baixo Fender Jazz Bass ano 62 (esse da
foto) largado sem estojo em cima de um banco. Arthur gelou. Olhou para a quadra
e lá estava Jaco Pastorius jogando basquete com um grupo local.
Arthur, aflito diante de seu ídolo maior, não sabia o
que fazer. O jogo acabou, o percussionista apresentou os dois e Arthur disse
que queria ter uma aula com ele. Jaco disse “tudo bem, é só me pagar 50 dólares
adiantado”. Arthur deu o dinheiro e marcaram a aula para o dia seguinte. Jaco
sumiu. Nunca mais. Arthur só soube dele quando morreu. Mas ainda assim, sempre
comovido, me disse “eu vi o cara, cumprimentei, ouvi sua voz, vi seu baixo todo
lanhado...claro que valeram os 50
dólares”.
Não foi à toa que uma vez escrevi (não lembro onde) que
Arthur Maia deu sequência ao estilo de contrabaixo inventado por Jaco
Pastorius. E essa história caberia muito bem numa autobiografia que Arthur Maia
precisa escrever contando tudo o que viveu e vive entre as maiores estrelas da
música mundial. A platéia agradece e aplaude por antecipação.
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