O rolezinho e o direito dos mais humildes, ou, a segregação é muito mais grave do que o arrastão

O rolezinho, invenção paulista, entrou na ordem do dia. Grupos de jovens combinam pela internet dar um rolé (em São Paulo é rolê) nos shoppings para se divertirem. Os criminosos reacionários de plantão, maurições que curtem estacionar seus bólidos luxuosos e cafonosos comprados em 800 prestações em frente a rampas de deficientes, chamam o rolezinho de arrastão. Não é.

Os reacionários tem que engolir que desde a criação do Real por FHC, as classes mais pobres tiveram um aumento significativo na renda, o que permite, por exemplo, entrarem em shoppings e comprar roupas, ou óculos escuros ou tênis. Não importa. Ser humilde é uma condição, entrar nos shoppings um direito. Chamar passeios de gente humilde por shoppings de arrastão é segregação, molecagem.

Se um bando de faraós, paramentados, ostentando diamantes, entrar num shopping e roubar celulares, bolsas e tudo mais, estará cometendo um arrastão. Pode ser um grupo de magnatas do petróleo, colecionadores de Ferraris, não importa. O crime é o mesmo. É nesse aspecto que o rolezinho deve ser analisado, avaliado.

Se um rolezinho desses promover um arrastão, não será pela condição social dos seus integrantes, mas pela má índole, péssima intenção, etc. Seja rolezinho, seja roda de magnatas, se não houver crime tudo bem, se houver que seja acionada a polícia e a lei.

A parcela racista da população está pré-julgando o rolezino como se gente humilde não pudesse andar em grupo porque isso, por si só, configura formação de quadrilha, um argumento tão ou mais canalha do que promover e participar de arrastões. É bom lembrar que por muito menos (por defender a igualdade) Nelson Mandela ficou preso ao longo de 28 anos e esses anos todos na cadeia tem que ter valido à pena.

Alguns shoppings, também sob a ótima racista, estão tentando acionar a Justiça para que esta proíba os tais rolezinhos, achando que são ações criminosas armadas na internet. “Acham” que vão acontecer crimes, arrastões pré-pagos, baseados única e exclusivamente na ótica torpe, ingrata e injusta do preconceito. Ora, se isso não é racismo, segregação, preconceito, é o que? 

Qual o problema de um grupo de pessoas pobres percorrer um shopping? O que leva muita gente a achar que esse grupo é uma quadrilha que vai fazer arrastões e cometer crimes semelhantes?


A segregação é muito mais grave do que o arrastão. Suspeitar da aparência dos humildes é cruel, nefasto e injustificável. E, em tese, dá cadeia. Ou pelo menos deveria dar.

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