Pelegos querem a volta da censura à imprensa
Uma das prioridades do governo é a famigerada regulação
da mídia, uma ideia que, noves fora tudo, no fim das contas pretende amordaçar
o exercício livre do jornalismo no Brasil. Sonho da pelegada pendurada em cargos públicos, muito bem
remunerada, os meios de comunicação passariam a ser submetidos a
regras que ele, governo, iria (ou irá?) impor segundo suas necessidades escusas
e escroques.
Para variar, o mestre Zuenir Ventura (eleito novo imortal
da Academia Brasileira de Letras) falou muito bem sobre o tema em sua entrevista
ao Globo, 15 dias atrás. O jornalista Maurício Meireles perguntou o que ele
acha da regulação da mídia e Zuenir respondeu que “Isso esconde impulsos
autoritários. Encobre um pouco um desejo de censura que vem sempre do poder.
Quem está sujeito à crítica sempre acha que é preciso controlar a imprensa de
alguma maneira. O ideal, para o poder, é que a imprensa pense a favor.
Essa
história de imprensa de oposição só é agradável para quem não está no poder.
Acho que a sociedade hoje não vai admitir uma coisa dessas. Por mais que
vejamos manifestações dizendo que a imprensa se excedeu, é muito melhor assim.
Quem viveu a ditadura sabe. Hoje há quem diga que na ditadura não tinha
violência nem corrupção. Tinha sim, mas não se sabia. Hoje o país é um nervo
exposto. As vezes cheira mal, mas você está vendo tudo. Tem que ser assim”.
É uma atitude antidemocrática? Totalmente. Pior: ouço
poucas vozes no Congresso gritando contra essa medida que, calando a boca (a
porrada?) dos jornalistas, varrerá a corrupção + armações + descasos +
incompetência + índice inflacionários altos + o Brasil real, enfim, para
debaixo do tapete. Os congressistas que elegemos não tocam no assunto porque,
em sua maioria absoluta, comem no pires dos pelegos que tomaram o Planalto as
migalhas do banquete que os reaças que desgovernam a nação cospem no lixo todos
os dias.
Neste 2004 celebrei 42 anos de jornalismo. Comecei muito
cedo aqui em Niterói como colunista do Jornal de Icaraí. Em seguida, atravessei
a Baía e fui trabalhar em grandes veículos (todos censurados) inclusive O
Pasquim que, várias vezes, encontrei fechado pelos verdugos com seus donos
(Jaguar, Ziraldo, Paulo Francis e companhia) presos. Escrevi também no ultra
radical de esquerda Movimento, que a ditadura acabou fechando definitivamente.
Nunca fui preso porque Deus não quis.
Vi a censura entrar na minha vida e na dos meus
colegas, alguns deles submetidos a tortura (e por isso deixaram o Brasil
definitivamente) e nunca poderia imaginar que ela estaria dando sinais de
retorno nas mãos de um partido que nasceu justamente com o apoio dos jornais
alternativos que deram a maior força a Lula quando ele assumiu o sindicato dos
metalúrgicos de São Bernardo. Eu estava no Pasquim quando todos do jornal
entrevistamos o então líder sindical, em 1978. Eu vi Lula recusar uísque e
pedir um copo de cachaça. Vejam vocês.
Agora sinto o odor da hiena retornando à savana. Ela, o
abutre, a coisa ruim, o caos de qualquer democracia. Ela, a censura. Como em
dezenas de vezes no Império, na Velha República, no Estado Novo, nos regimes
mais duros como o de 1964-1984, a guilhotina da mordaça impediu que a população
soubesse dos podres de reis, viscondes, barões, generais, senadores, deputados,
vereadores, presidentes, ministros, presidentes de estatais, guardas da
esquina.
Aqueles que sentem saudade da ditadura porque era, segundo eles, um
regime limpo, devem se lembrar que os que escreviam alguma coisa contra sumiam
ou eram covardemente mortos como o grande Vladimir Herzog, enforcado
numa cela do DOI CODI (unidade do Exército) em São Paulo, em 1975, depois de
ter sido preso na redação da TV Cultura, acusado não se sabe de que e
assassinado por razões até hoje misteriosas.
A tal regulação da mídia (que é a cara do decano da
tortura no Brasil, Filinto Muller, nazista sem carteirinha que foi braço
direito de Getúlio Vargas no Estado Novo) vai servir para, por exemplo, baixar
a inflação. Censurada, a mídia terá que bater cabeça para qualquer índice. Ídem
com relação ao desemprego, a falta de chuvas, energia, etc. Vocês sabiam que
até 1979 era proibido divulgar quando a temperatura ambiente passava dos 40
graus? Por que? Porque caso a mídia divulgasse mais de 40 graus, as leias
trabalhistas da época obrigavam os empresários (que davam muita grana a
ditadura) a pagar insalubridade a massa de trabalhadores que padecia no calor.
Sabiam que a inflação de 10% da ditadura foi maquiada? Que todas as taxas de
crescimento alto e desemprego baixo foram inventadas?
Agora, caso a regulação se torne realidade, tudo será como
antes, mas, com certeza, o pau vai comer porque pelo que observo, ouço,
entrevisto, as novas gerações estão do nosso lado e não toleram não só a
hedionda corrupção que assalta a nação como as manobras que querem fazer para
varrerem o lixo para debaixo dos carpetes federais.
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