A orgia das hienas da energia elétrica, ou, um país à Bangu com 37 graus à sombra

                                                                             
                                                                                
            Dakar, Senegal.                                    
 
 
 
 
                                                                               
                                                     
                        
Antes de escrever acessei a web para ver como está o tempo em Dakar, capital do Senegal. Afinal, é comum ouvirmos “está um calor senegalês” quando dizem que o maçarico anda insuportável. Pois bem, saibam que hoje o céu está claro e a temperatura é de 25 graus em Dakar. Suíça, totalmente Suíça. Ao longo dos próximos dias, temperatura média de 21 graus, céu claro.
Fui ao Hortifruti comprar água de coco em garrafada (pura, 100% pura) e encontrei um sujeito chato pra cacete. Chato, mas uma ótima fonte de notícias. Sempre foi, desde a adolescência. É chato mas é extremamente bem informado, lê tudo, conhece muita gente e apesar de ser médico diz que adoraria ser, também, jornalista.
Ele me contou que empresas distribuidoras de energia elétrica estão festejando loucamente a facada que já estão dando em nossas costas. Por conta de represas vazias, usinas termoelétricas virando 24 horas, incompetência (ou leviandade) do governo em geral e, lógico, aumentos absurdos nas contas de luz, enfeitadas com o marketing das bandeirinhas vermelhas.
Um cliente meu é alto executivo de uma distribuidora e eu o atendo em meu consultório, em Brasília. Estava radiante, parecia uma criança. Ele me disse que a estimativa de lucros das distribuidoras e concessionárias está na casa dos 25%. Isso mesmo, 25% limpinhos nos bolsos. Alegria geral”.
Enfurecido, mas calado, quase arremessei a garrafa de água de coco no teto do Hortifruti, não porque a festa dos urubus fosse uma novidade mas pela confirmação do que eu já suspeitava. É lógico que tem muita gente deitando e rolando nessa crise, a começar pelos bunkers de negociatas em Brasília. Afinal, no Brasil de hoje a podridão é o espelho da nação.
Outra crise que está rendendo bilhões. Essa semana o governo nos deu mais uma calça arriada ao anunciar o pacotão de assaltos, que culminam com o aumento do preço dos combustíveis que é lógico, evidente, só um imbecil não vê, é para cobrir o rombo da corrupção na Petrobras. Ou seja, pagamos para a cambada roubar e agora pagamos de novo para a Petrobrás continuar sendo assaltada. Ou alguém acredita que tudo mudou de repente, tudo azul, todo mundo nu?
Um pouquinho mais de Brasil. Ontem fui a uma agência bancária sacar 60 reais. Das cinco máquinas, três estavam quebradas, ou “em manutenção” como diz o “tecnologismo” de praxe. Fila, é lógico. Calor, idem porque o ar condicionado não dava vazão.
Vinte minutos depois, com os 60 reais no bolso, vi uma confusão na esquina. Uma van fez a curva de mal jeito e a roda de trás passou em cima do pé esquerdo de uma senhora que, graças a seus ululantes atributos físicos, ganhou a ajuda de uma dezena de homens e, evidentemente, do motorista da van que quase apanhou. Ele levou a vítima para um hospital. Movido por péssimas (???) intenções, me ofereci para conduzir a capitosa senhora, mas fui voto vencido. A fila não andou.
Voltei para a minha oca de trabalho e prossegui escrevendo um trabalho apaixonante, ouvindo os novos discos do Beck (“Morning Phase”) e o de Jack White (“Lazaretto”). Quando cheguei na página 39 fiz uma pausa para aporrinhação. Lembrei que precisava comprar um chip para um celular que jazia adormecido numa gaveta.
Deixei o cursor do computador piscando e fui para a rua. Entrei na revenda de uma operadora, tudo moderninho, atendentes com notebooks HP zerados e munidos de total boçalidade e mau humor. O assunto (não aguento mais) era o calor e o ar condicionado que “não está aguentando”, dizia uma carrancuda mocinha, que em TPM poderia trabalhar como touro em Sevilha. O cidadão que me vendia o chip queria empurrar uma linha pós-paga de qualquer maneira, apesar de, calmo, muito calmo, explicar a ele que eu queria um chip pré-pago e ponto final.
Pediu meu CPF. Digitou não sei o que. Não sei porque o antílope estava com a tampa do notebook virada para ele. De repente, testa suando, pediu que fôssemos para uma outra mesa. Percebi que algo errado havia acontecido naquela aflita “tecladagem” dele. Fomos. Plec, plec, plec, digitava o rapaz. Pediu a identidade de novo, em seguida meu endereço com CEP, mais uma vez. Tudo em capítulos, como Albertinho Limonta numa novela chamada “O Direito de Nascer” que assisti quando era pequeno. A novela durou quase um ano e quem não assistiu ou não ouviu falar pode confirmar no Yahoo, Bing, Google e similares.
Tudo certo. Veio o chip num pacotinho muito parecido com aqueles que guardam lencinhos úmidos de avião europeu. Estava lá o número do meu telefone. Ele pediu que eu pegasse o celular e digitasse asterisco e um número. Foi o que fiz. Uma voz gravada informou que em duas horas meu telefone estaria funcionando. Paguei e fui embora. O sinal chegou e, para testar, liguei de um telefone fixo para o de chip novo. Não tocou. Em menos de cinco minutos, o telefone de onde liguei chamou e era um senhor perguntando quem havia ligado para ele. Resumindo: meu chip estava com o número clonado! Voltei a loja. Cafezinho, desculpas (“está muito calor”) e peguei o chip certo.
Antes de retomar o trabalho, verifiquei os e-mails. Um press release estava cheio de erros de concordância. Mandei uma mensagem confidencial e elegante para a colega alertando sobre as calamidades. Ela gostou porque respondeu com um “valeu, LAM!”.
Mais e-mails, uns 30, informando que receberam mensagens dizendo que meu endereço eletrônico havia mudado. Mentira! Comuniquei a lista toda que não mudei de e-mail e quase postei uma nota no Facebook, o que acabei não fazendo para não amplificar ainda mais o problema.
Da cozinha de meu lar ouvi um estrondo. O sujeito que veio trocar o reator da lâmpada fluorescente caiu da escada. Na verdade a escada (que não era minha), vagabunda, abriu no meio. O cara não se machucou, mas, ainda assim, pedi desculpas.
E assim cavalga esse alegre Brasil, que na tarde de ontem fez 33 graus em Friburgo, 34 em Teresópolis e 35 em Petrópolis. Brasil de orgias de empresários canalhas, que alaga até com sereno, não adia o carnaval nem com calamidade pública e vai fazer Olimpíadas ano que vem no auge da recessão, sem chip de telefone, van passando em cima dos outros e é isso aí. Sôda-se, diria Fócrates.
P.S. - Algum parlamentar se habilita a fazer uma auditoria nas contas das Olimpíadas? Nada demais, só prevenção. Que tal? A sugestão é do amigo que encontrei no Hortifruti.
P.S. 2 – Chico Alencar para presidente da Câmara dos Deputados!


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