Ricardo Boechat, um jornalista antenado, workaholic, verdadeiro

                                                  
Acabei de ler uma ótima entrevista com Ricardo Boechat na revista Rolling Stone deste mês (Bob Marley na capa) e, naturalmente, me vieram algumas recordações.

A primeira vez que trabalhei com ele foi em 1985 (ou 86). Ele dirigia a sucursal do Estadão no Rio. Era o Boechat de sempre. Vivo, exigente, carcará, generoso, gente boa, estourado. Fiquei uns meses mas tive que sair para trabalhar em outro projeto, permanecendo como free lancer do Caderno 2 do Estadão durante um bom tempo. Mas durante a minha passagem pela redação no Rio, Boechat deixou a sua marca e a minha admiração.

Em 2005, 15 anos atrás, soube que o Grupo Bandeirantes estava começando a montar uma rede de emissoras allnews em FM, que iria se chamar Bandnews. Liguei para Ricardo Boechat, que na época comandava a redação da Band (TV) no Rio.

- Boechat, quero trabalhar nesse projeto.

- Mellô (ele me chama de Mellô), fale com o Mauro Silveira, que é o chefe de redação da rádio, telefone tal.

Já tinha trabalhado com o Mauro na Rádio Jornal do Brasil no início dos anos 80. Fomos repórteres do Departamento de Radiojornalismo. Antes, ele foi jornalista da Rádio Fluminense FM, que eu dirigia, onde fez um ótimo trabalho, elogiado pelo pessoal da rádio e também pelo mercado.

Comecei na Bandnews dias depois, nos preparativos que antecederam a entrada no ar da rádio que, ironicamente, ocupa a frequência de 94,9 MHZ que um dia fora habitado pela Fluminense FM. Minha primeira missão foi ser produtor de jornalismo do programa do Boechat.

Veio o dia da estreia da Bandnews. Eu estava lá, por volta da meia noite, quando quando entrou a vinheta de estreia da nova rádio allnews que iria sacudir o país. No Rio, como diretor da emissora, Ricardo Boechat. Produzi seus primeiros programas. Eu levava as sugestões de entrevistados, ele pautava os assuntos a serem discutidos em reuniões diárias que fazíamos em sua sala na redação da Band.

Extremamente exigente, antes de aprovar uma pauta me enchia de perguntas. Eu já sabia pois no Estadão fora sempre assim e com outros colegas também. Com o passar do tempo, fui me deslocando para a área cultural da Bandnews FM e deixei a produção do programa Boechat, mas não perdi o contato com ele. Em meu lugar entrou uma grande colega, a querida Belisa Ribeiro.

Em vários plantões (sábados, domingos, feriados) ele sempre ligava para a rádio passando notícias. Como a Rolling Stone diz, ele não para de trabalhar e isso nós temos em comum. Cobri internamente o Reveillon de 2005 para 2006, conectando Copacabana (um colega estava lá ao vivo) a cabeça da rede em São Paulo. Quando terminei o plantão (comecei as 18 horas do dia 31 e fui até uma da manhã do ano novo) achei que o trabalho tinha sido legal. Boechat também, quando o encontrei nos corredores da Band, dias depois.

Ele cobrava, mas reconhecia. Quando entrevistei Gilberto Gil e abordei o escândalo do mensalão, Boechat me ligou dizendo apenas “segue nessa trilha, é por aí”, mas com certeza o trabalho que ele mais gostou foi o dia em que fique das 10 da manhã as 10 da noite entrando ao vivo direto do backstage dos Rolling Stones em Copacabana.

Profissionais como ele são muito raros. Se por um lado pega pesado por outro reconhece, orienta, fala o que quer com muita precisão. A Rolling Stone prestou um grande serviço ao jornalismo ao entrevistar um nome que é a marca da notícia bem apurada, bem feita, bem levantada e, naturalmente, bem escrita. Merece ser um campeão de audiência.

Valeu, Rolling Stone! Valeu, Boechat!
                                                                               

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