Outono/inverno: brisa da beleza e das agudas reflexões
Hoje é o último domingo deste verão, bem mais quente do que o do ano passado e segundo previsões catastróficas o do ano que vem vai ser pior. Não importa. Resisto ao verão como posso, sem reclamar, porque afinal de contas isso aqui não é Europa. Assim como tem gente que gosta de apanhar, há quem adore o verão. Fazer o que? Mas, o que mais gosto do verão é esse final, quando começam as projeções sobre o outono.
Imagino a massa polar que frequenta o
outono e o inverno no Brasil e traz o azul mais profundo do céu infinito, realça
o verde das árvores (onde ainda existem) e nos convida para visitar a oca das
reflexões. Mesmo os chamados anti-reflexivos refletem sem saber. Na pior das
hipóteses, contemplam a vida com um olhar levemente crítico do tipo “o que é
que estou fazendo nesse filme?”.
Sou do time cujas reflexões são
profundas e, muitas vezes, se transformam em crises existenciais, minhas velhas
conhecidas. Como o mar de marolas que vai engrossando, engrossando e de repente
vira trazendo as ressacas. Ressacas, irmãs do inverno, das pedras e conchas
geladas, vento soprando de leste, quase frio.
Se viver é fundamental, refleti é
crucial. Em muitos momentos pensamentos mergulham em trilhas muito duras e
sofridas mas graças à luz do outono/inverno, chegam a alguma conclusão saudável,
ou possível. Outono e inverno parecem jogar a nosso favor. Não, não tenho nada
contra a primavera e o verão, mas penso que o calorão não combina com reflexões
plácidas. É só caos, caos, caos.
Confesso que já fugi (ou tentei fugir)
de alguns pensamentos, especialmente os caóticos que, não se sabe por que, nos
levam a becos que nós mesmos tornamos sem saída. Em tese. O noticiário dos
últimos dias não tem combinado com a beleza das folhas molhadas ou com o
orvalho que molha as calçadas dos lugares arborizados. O noticiário dos sites,
jornais, revistas, TVs está pesado e, a vezes, dá vontade de parar de querer
saber o que está (ou não) acontecendo com o Brasil. Mas, não tenho vocação para
a alienação.
A dor de querer saber compensa mais do
que a dormência da ignorância, por si só, boçal, totalmente boçal, nos engessa numa
redoma de lata sem o menor sentido. Fundamental, para mim, continuar querendo
saber e, ao mesmo tempo, contemplando o azul profundo do céu levemente gelado
do outono que desperta sentimentos profundos, belos e, porque não, alguns nós
na garganta.
E o vento sopra, carrega o orvalho, as
luzes, o azul do céu de outono.
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