Paulo Coelho volta a minha Coluna, depois de um leve mal entendido

    Paulo Coelho sentado. Anos 70.
    Sociedade Alternativa, de Paulo Coelho e Raul Seixas. Perseguida pela ditadura.
                                                                         
                                                                            


No início da noite de anteontem escrevi aqui que Paulo Coelho não viria mais ao Brasil, conforme ele teria dito a um grande amigo comum. Dele e meu.
Logo que postei o artigo, intitulado “Paulo Coelho desistiu do Brasil. Ou, a inveja é uma merda”, o Paulo disparou essa mensagem aqui nos Comentários:

"Não desisti do Brasil. Foram os leitores brasileiros que me levaram a ser traduzido no mundo inteiro. Seu amigo deve estar mal informado.

O que nunca tentei foi agradar os críticos (hoje inexistentes) ou não teria passado de O Diário de um Mago.

O que gosto é de morar em lugares isolados, e isso já ocorreu nos Pirineus (França) e agora ocorre em Genebra.

Finalmente, para não fugir à fama de arrogante: me considero um excelente escritor, como aliás a maioria dos críticos no mundo me consideram."

Ontem de manhã bem cedo, excluí a matéria da Coluna respeitando o desmentido, apesar dos ecos, da reverberação generalizada. Até colegas jornalistas me ligaram querendo saber o que estava acontecendo. Bom, tirei o artigo e fui trabalhar. Por volta das 10 horas, pelo Twitter, Paulo Coelho me perguntou por que eu havia deletado a matéria.

De fato, poderia parecer que ele tivesse pedido para eu retirar, chateado, furioso, quando não foi nada disso. Ele desmentiu a história mas em nenhum momento se mostrou destemperado ou sequer insinuou que eu marretasse o texto. Por isso, republico a baixo o texto equivocado:


Paulo Coelho, 67 anos, lançou seu primeiro livro (“O Teatro na Educação”) em 1974. Até o ano passado já são 19 obras, entre elas os mega best sellers “Diário de um Mago”, “O Alquimista” e “Brida” que venderam muitos milhões de exemplares em todo o planeta. Seus livros já foram traduzidos mais de 70 idiomas. Não é um Lima Barreto, um Machado de Assis, um Rubem Fonseca. Longe disso. Ele está longe de ser é um giga-escritor; sabe que não é, sabe que é limitado mas (e daí?) passa a sua mensagem.

Dele, só li “As Valquírias”. Gostei. Por que não li os outros? Não é meu estilo. Mas o fato de não ser meu estilo não significa que é ruim. Essa linha de raciocínio é muito onipotente. Há quem não goste de Marisa Monte. Tudo bem. Mas ruim ela não é. A distância entre não gostar e achar de má qualidade é abissal.

O sucesso nunca subiu à cabeça de Paulo Coelho, mas a inveja alheia, amarga, mal humorada e sem argumentos tentou e tenta derrubar a sua que alguns protozoários chamam de subliteratura. Como se Paulo tivesse pretendido, um dia, se tornar um intelectual esverdeado, cafonoso e ultrapassado, desses que ainda acham que ir à praia é coisa de pequeno-burguês.

No lugar de um escritor empolado, envernizado, que come mexilhão e arrota caviar, o Brasil escolheu um homem simples, ex-doidão hippie nos anos 1970, letrista de músicas compostas para Elis Regina e Rita Lee. Com Raul Seixas foi parceiro em mais de 60 canções. Foi diretor da gravadora CBS (hoje Sony Music) editor do jornal Express Underground, professor de teatro e secretário de redação do jornal O Globo.


A obra de Paulo Coelho levou milhões de pessoas a lotar as livrarias, rompendo a estranha barreira (essa sim, pequeno burguesa) elitista que se achava dona da literatura. Quase 30 anos depois do lançamento de “O Diário de um Mago” o mercado de livros no Brasil é outra coisa. Vende bem, pessoas de todas as classes sociais estão adquirindo o saudável hábito da leitura, feiras como Flip e bienais são um explosivo sucesso de público. Tanto que, em 2002, ele foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras.

Paulo Coelho continua invejado, patrulhado, perseguido. Não com aquela intensidade de antes, mas ainda assim muitos não admitem o sucesso de um homem que sentou, escreveu, publicou e aconteceu. Ponto. Que mal há? Que culpa tem Paulo Coelho se milhões de pessoas, em todo o mundo, o transformaram num best seller? Definitivamente, a inveja é uma merda.

P.S. - Em entrevista a Léo Gerchman, do jornal gaúcho Zero Hora, Paulo Coelho abriu o verbo. Extraí alguns trechos:

- O senhor acha que, sem o LSD, os Beatles teriam elaborado e gravado Sgt. Pepper’s?

- É óbvio que os Beatles teriam gravado Sgt. Pepper’s sem LSD. Já me droguei muito, mas fui parando aos poucos. LSD eu acho que tomei a última vez em 1972, cocaína em 1974 e maconha em 1982. A droga dá uma falsa sensação de criatividade. Os Beatles devem ter gravado Sgt. Pepper’s totalmente caretas. Quando você está na droga, você pode dar uma viajada que aquilo é legal, mas, quando escuta, é diferente. Escrevi muito sob o efeito de drogas e depois, quando ia ler, achava tudo um horror.

(...) As pessoas estão muito insatisfeitas com suas vidas cotidianas neste século 21? Por quê?

Acho isso bom, pois, se não estivessem, não estariam evoluindo. Acho que a insatisfação faz a gente andar para frente.

O movimento da “sociedade alternativa” ainda é uma resposta a isso?

É uma ideia minha e do Raul que foi ótima nos anos 1970. Mas, hoje em dia, já é impossível, inclusive de ser colocada em prática, pois, graças à internet, tudo está muito interligado. Você não pode se afastar de alguma coisa. Nós somos nós mesmos e nossas circunstâncias, como dizia Ortega y Gasset.

Desde livros como Brida e O Alquimista, como se deu sua evolução como escritor?

Eu mantenho uma coisa muito importante na minha vida que é ser direto sem ser superficial. A primeira versão de um livro meu tem muito mais páginas, mas, quando é publicado, eu já cortei tudo que era excesso, sem perder a essência. Era meu estilo na música, e é na literatura. Isso atravessa todos os meus livros.

Que tipo de música o senhor estaria fazendo hoje em parceria com Raul Seixas?

Eu não estaria hoje fazendo música. Acho que música tem data, as letras que eu fazia eram sucesso no Brasil inteiro. Parei de compor no momento em que estava em alta, porque achei que a música era uma coisa da juventude. Eu já tinha mais de 30 anos e não conseguia acompanhar direito. Achei melhor parar do que ficar fazendo música por fazer. Você tem de ser honesto com o que você se propõe a fazer. Se você se propõe a fazer música, enquanto ela reflete sua alma, está boa, mas depois fazer porque você tem ali uma máquina registradora na máquina de escrever, isso não está com nada. Parei e não me arrependo. Nunca mais fiz música, apesar de ter tido grandes propostas de artistas internacionais, especialmente depois que fui traduzido para outros países e descobriram que eu fui letrista.

Vivemos hoje em um mundo melhor? O senhor acredita em evolução?

Eu não sei se a gente vive hoje em um mundo melhor, mas certamente em um mundo mais consciente, graças às comunidades sociais, aos meios de comunicação, mais participante. Eu não estou falando do “cliqueativismo”, daquela pessoa que clica em uma petição e acha que vai salvar as crianças em Angola. Mas a gente tem consciência e se decidir agir, agirá. Ou ficará omisso, mas não vai ficar omisso alegando que não sabe o que está acontecendo no mundo.

Qual foi o maior erro da sua vida?

Ih, é uma coleção, de modo que eu não saberia dizer qual foi o maior. Eu errei, erro e errarei. O problema não é errar, mas se deixar paralisar por esse erro.

                                                                 

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