A trairagem dos governos com os pracinhas da FEB. O Brasil de Vargas não mereceu os seus heróis



Acabei de ler o livro “1942 – o Brasil e sua guerra quase desconhecida”, de João Barone. Ele mesmo, o baterista dos Paralamas do Sucesso, que é também um especialista em Segunda Guerra Mundial e que, gentilmente, me presenteou em mãos com um exemplar autografado.

Impressionante a história dos milhares de brasileiros que foram lutar na Itália. De 1942 a 1945, os “pracinhas” como ficaram conhecidos lutaram bravamente contra os nazistas. Muitos morreram, muitos ficaram gravemente feridos, mas venceram a guerra, voltaram e foram humilhados por Getúlio Vargas, na época ditador.

Ponderado, Barone conta que Vargas demorou a decidir lutar ao lado dos Aliados, sorrindo como Monalisa, simultaneamente, para Hitler, Mussolini e para os norte-americanos. Alguns historiadores contam que graças a dinheirama para a construção da Siderúrgica de Volta Redonda, o ditador vendeu o passe do Brasil para os norte-americanos, o que teria deixado Hitler furioso.

A história que João Barone conta parece secreta porque a imagem que nos passam dos pracinhas está longe de ser positiva. Muito longe. Nunca entendi porque, mas agora a conta fechou. Vargas, vejam vocês, achava que assim que chegassem os comandantes da FEB (Força Expedicionária Brasileira), lideradas pelo marechal Mascarenhas de Morais iam dar um golpe de estado. Mais grave: devido a euforia popular com o desfile dos pracinhas pelo Centro do Rio, o ditador achou que eles estavam ofuscando a sua imagem, e proibiu manifestações acaloradas.

Com relação ao golpe de estado de novo, mais uma vez o ditador errou. Foi enxotado em 29 de outubro de 1945 por um movimento militar liderado por generais que compunham seu próprio ministério e que pôs fim ao Estado Novo. Os pracinhas e seus comandantes não tiveram nada a ver com a história.

Milhares de brasileiros embarcaram para a Itália, lutaram dia e noite em solo estranho com temperaturas de até 20 graus abaixo de zero, enfrentaram os ultra bem preparados militares alemães. Ao voltarem, tiveram sua bagagem saqueada, medalhas e comendas prometidas que jamais foram entregues e depois de um desfile pelo centro do Rio de Janeiro foram perseguidos implacavelmente por Vargas.

Com o passar do tempo, muitos pracinhas foram parar no fundo do poço. Barone conta que a sede da associação dos ex-combatentes da FEB, na rua das Marrecas, no Rio, só sobreviveu graças a parentes e amigos dos combatentes.

Só que ontem, alertado pelo amigo Caíque Fellows no Facebook, li na coluna do Ancelmo Góis, no Globo, a notícia de que o governo do Estado, que havia cedido o imóvel na rua das Marrecas para a Casa da FEB, vai vende-lo para fazer caixa. Os helicópteros a serviço do governador continuam voando. As mordomias, OK. Tudo certo. Tudo em volta está deserto, tudo certo, governador.

Desertar é preciso. O Brasil de Vargas e Pezões não merece seus heróis.


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