Carta aberta ao inverno, estação romântica, civilizada e a prova de molambos

Inverno, meu chapa, enfim você chegou como percebo pela chuva fina, pela brisa fria, pelas ruas vazias e pela minha alegria interior que mais parece uma festa junina. Sempre gostei de você. Sempre. Provavelmente porque nasci no alto verão, fevereiro, e desde o berço padeço com o calor, o vento quente, a falsa euforia das pessoas atiçadas pelo marketing que determina que “o verão é a melhor estação”. Não é.

Gosto muito de você e de seu primo próximo, o outono, que pegou um ônibus há pouco rumo ao infinito. Inverno, além de gente boa você provou que os lugares mais frios são mais deselvolvidos. Por exemplo, não ouvi falar de arrastões no inverno, de brigas em, praias lotadas no inverno, de barbáries como o carnaval de rua feito nas coxas no inverno, tragédias provocadas por temporais no inverno. É tudo no verão e na primavera.

Quando você chega os predadores da cidade - molambada que sai por aí destruindo tudo em nome do tal “verão maravilha, anarquia, que se danem os outros ”- as mulheres surgem mais elegantes e atraentes na paisagem afirmando que tive razão nos anos 1990, quando escrevi que o universo feminino no inverno é mais autêntico (logo, belo) do que no suadouro marqueteiro do verão. 

A programação cultural noturna fica muito melhor, os lugares mais vazios, a música de qualidade quase destrona a pagodagem e a patologia sertaneja que nos tortura no verão. Ah, inverno, lembra da micareta? Aquela baderna em torno de um trio elétrico, todo mundo bêbado currando as meninas? Sumiu, né. Mas li que alguém quer retomar aquela bosta, naturalmente no verão.

Para mim o ideal seria que você durasse 12 meses, temperatura média de 25 durante o dia e chegando a 15 durante a noite. Sem estresse, suadouro, ar condionado pifado nas lojas, gente se esbofeteando com árvores de Natal. Sejamos civilizados, meu chapa. Viva você, viva o outono!

Quanto a primavera e o verão, você deve estar sabendo que o governo roubou tanto, é tão incompetente que faliu o Brasil. E quem paga a conta desde 1808 quando, encagaçado com a chegada de Napoleão a Portugal, Dom. João Sexto fugiu com a Corte para cá e inaugurou a corrupção? Quem paga a conta somos nós, plebe, que rala, rola, bate, apanha 24 horas por dia para a cambada comer canário belga com fritas no Planaldo e adjacênciuas (Congresso, etc.).

No mais, bem vindo inverno. E, por favor, não seja rápido. Seja pleno.

P.S. - “Os lugares públicos mais íntegros e éticos de Brasília são os bordéis”. Yuka Una, cover de Yoko Ono.






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