O menino afogado na praia turca; o dia em que o mundo sentiu vergonha de si mesmo
Quero
falar do menino Aylan
Kurdi afogado num balneário
da Turquia. Quero falar da foto daquela criança pequena, sapatinhos
pequenos, bermuda, camiseta. Morta.
Inerte
perante a boçalidade. Quero falar que aquele garoto, cujo nome todos
nós já sabemos, transformou-se num mártir. Por causa dele (ou da
ausência dele), da sua inocência de bebê que parecia adormecido
perto do mar manso, a história vai sofrer, sim, uma reviravolta.
O
mundo ficou envergonhado de si mesmo.
Quero
dizer para o pai daquele menino que ontem, desesperado, gritou “eles
escorregaram de minhas mãos” (além do menino, seu irmão um pouco
mais velho e sua mãe também morreram)...bem, quero dizer para esse
pai que se não tivesse morrido, seu filho poderia se tornar um líder
pacifista mundial, um presidente, um monarca, um baluarte dos
direitos humanos.
Mas
quis a boçalidade humana que ele entrasse para a história com a sua
imagem frágil, largado, abandonado, cuspido pelos homens, pelos
poderes, pelos organismos internacionais, pela impotência moral,
ética, estúpida que transformaram o planeta numa bola de fezes.
De
um lado a inominável existência do terror do Estado Islâmico, Al
Qaeda, Talibã e afins que arrancam por dia dezenas de vidas de
meninos como Aylan
Kurdi
De
outro lado a imbecilidade do terror ocidental e sua máquina de
guerra, que não difere quem é quem, onde, por que. O que vale é a
bala. A bomba. O grito.
O
mundo está envergonhado de si mesmo.
Mesmo
com hordas e mais hordas de imbecis que ainda acham que o TER é mais
valioso do que o SER, que a dignidade, ética, bom senso são
invenções de fracassados, a imagem do menino mexeu com uma maioria.
Menos
mal.
Mexeu
e vai continuar mexendo porque até os gorilas se comovem diante de
uma imagem daquela. Imagem que em mais de 40 anos de jornalismo eu
nunca senti tão forte. E me fez chorar por dentro, olhando para a
tela do computador inerte, pensando em até onde, até quando?
Até
onde?
Até
quando?
Siga
em paz, menino Aylan
Kurdi. Sua
morte não foi em vão porque um dia o SER vai vencer o
TER e revelará a verdadeira face dos fracassados.
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