Porque detesto disco de vinil, aquele porco redondo
Em novembro vai rolar a 15a. Feira de Discos de Vinil do Rio
de Janeiro. Dizem os apaixonados que é a maior e melhor do gênero.
Recebi o convite de uma amiga logo de manhã e educadamente respondi
dizendo que não vou. Ponto.
Respeito muitíssimo os apaixonados
pelo vinil e também os que cultuam leques na parede, coleção de
corujas de porcelana, carros antigos, revistinhas de sacanagem,
enfim, não me meto na vida de ninguém. No entanto, confesso aqui o
hediondo e absoluto horror que nutro pelo vinil desde que comecei a ouvir
música. Tanto que quando saiu o CD (para mim a melhor de todas as
mídias), dois anos depois doei todos os meus dois mil e varada LPs
para uma instituição de caridade. Me livrei de um fardo que me
perseguia. Os poucos que sobraram derreti e transformei em cinzeiro,
que dei de presente aos amigos.
Como princesa Isabel, o CD me
libertou da senzala. Senzala que me obrigava a ouvir música ao som
de “clac, clac, clac” ou faixas que agarravam ou pulavam, agulhas
que acabavam no meio da madrugada me deixando na mão, mofo, fedor.
Os importados, mais pesados, eram menos problemáticos, mas muitos
nacionais pareciam tampa de privada. Lembro de um disco do Nektar que
simplesmente veio sem os graves. O primeiro lote chegou a ser
recolhido porque deu um problema no azimute (toc, toc, toc na
madeira) e a tal leva saiu bichada.
Quando comecei a trabalhar em rádio
aos 16 anos de idade vi que não estava só. Os operadores de áudio
odiavam o vinil porque ele “derrubava” os profissionais no ar.
Faixas agarravam, ou o braço do toca discos sem mais nem menos saia
voando sobre o disco causando aquele “vruuuuummm”, músicas
pulavam, problemas que, em geral, causavam punições aos operadores.
Um dos programas mais importantes e
sisudos da história do rádio foi o de música clássica na radio
Jornal do Brasil FM. Só musicais de altíssimo nível, utilizando
vinis importados tratados a pão de ló. Numa noite, um desses discos
estava com uma pequena falha de fabricação e no final de um
movimento agarrou. Já vivíamos a era do locutor-operador e ele
tinha ido ao banheiro. O vinil fez o estrago, ficou mais de cinco
minutos repetindo o mesmo trecho e, dias depois, o locutor recebeu
a primeira advertência profissional de sua carreira.
Na Rádio Fluminense FM um disco
durava, no máximo, 100 execuções. Depois a introdução das músicas
saia com chiado porque para colocar no ponto as locutoras-operadoras
tinham que rodar com a mão o início, para frente e para trás. Caos.
Sem saída, inventei a expressão “reprodução a prego” para
justificar o injustificável. Mais: vi locutoras colocarem moedinhas
no braço do toca discos, sobrar a agulha, enfim, faziam feitiçarias
para que aquela bosta tocasse direito.
E foi assim, derrubando
profissionais, enchendo o meu saco que o vinil, aquele porco redondo
saiu de cena (viva!) lá por 1985, dando lugar ao CD, isso sim uma
mídia decente na minha modesta opinião. Desejo a todos uma ótima
feira, desejo que curtam, cultuem, enfim, desejo tudo menos que me
convidem.
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