"Decepcionistas"
As
recepcionistas de salas de espera são espécie
em extinção. Nos anos 80
tentaram substituí-las pelas secretárias eletrônicas. Não
deu certo. Hoje, segunda década do século 21, assistimos a
proliferação das “decepcionistas”, que assombram muitas e
muitas salas de espera pelo país.
Em
geral, as “decepcionistas” são grossas, carrancudas e amargas,
desde o instante em que ligamos para um profissional (de qualquer
área) para marcar um encontro/reunião/consulta até o momento em
que damos de cara
com a medusa em questão. Um dia antes, de
má vontade, ela telefona
para confirmar o encontro e
ai daquele que não confirmar. “Não poderei ir amanhã”,
confessa a vítima. A resposta vem como um dardo: “só tenho
(assim, na primeira pessoa) daqui a dois meses.”
Além
da grosseria, outro ponto em comum entre ela
é o frio. Nós, que em geral pagamos o encontro/reunião/consulta
com o (a) chefe da “decepcionista”, saímos de um sol de 50 graus
somos obrigado a encarar uma sala de espera quase
quenter porque a
“decepcionista” sente muito frio. Tempos atrás pedi “a senhora
pode aumentar o ar condicionado?”. O bugre atacou “não, aqui
está muito frio. O senhor vem da rua, mas sou
eu aqui
fico aqui o dia inteiro”. Para não perder a cabeça e,
principalmente, a consulta, fiquei quieto.
Quando
você liga em março querendo agendar uma consulta, por exemplo, a
“decepcionista” atende com aquela voz de tédio e azedume e
pergunta, secamente, “é plano?”. Você diz que é (plano de
saúde para elas é crime) e ela não esconde o êxtase ao informar
“para plano, consulta só em julho”. Atônito, você rebate “mas
ainda estamos em março” e ela encerra: “e daí?”, tipo “quem
manda aqui sou eu, meu chapa” e, na verdade, é parece
que é a pura verdade. Quem
manda naquele terreiro é mesmo a “decepcionista”, que acha que
plano de saúde é de graça.
Os
casos são muitos. O sujeito chega a uma consulta marcada para as 14
horas e a sala de espera está mais
cheia do que van
Copacabana-Central do Brasil,
as 6 da tarde. Um enigma. É a “decepcionista” que enche a sala
de propósito ou é a chefia que manda? O sujeito espera uma hora e é
atendido. O chefe da “decepcionista” manda ele marcar uma outra
consulta na saída, ele marca para o dia tal, do mês tal, as 16
horas. Chega as 16h30m, sala de espera lotada, o cara das 15h30m
sequer foi atendido e a “decepcionista”, com TPM mental, coça a
virilha e dispara: “o senhor está atrasado, vai ter que marcar
nova consulta”. A vítima tenta argumentar “mas a pessoa que está
antes de mim nem foi chamada...” e a ema do apocalipse despeja “não
interessa, está atrasado,
tem que marcar outra consulta”.
Não
esqueço, ano passado, numa sala de espera (a maioria é feia,
iluminada com luz de lavandaria, cadeiras mais duras que pau de
enchente, o que agrava a situação), um sujeito de terno que não
aguentou a patada de uma “decepcionista” dessas. Ele disse “a
senhora sabe o que é Google? Se não sabe, saiba que o Google já
inventou carro que anda sozinho, enfermeiro robô, bancário de
alumínio e vai chegar o dia que em seu lugar vai estar sentado um
androide educado, minha filha”. Levantou e saiu. Sorte, porque ter
a coragem de chamar uma “decepcionista” de minha filha é beijar
boca de cobra.
Senti
vontade de aplaudir, mas e a vingança da bastarda? Não quis
arriscar.